domingo, 10 de fevereiro de 2013

Sobre Mudanças e Perdas


Diálogo entre James Hillman e Michael Ventura, publicado no livro Cem anos de psicoterapia... e o mundo está cada vez pior:
HILLMAN: Jung diz que Individuação é ser cada vez mais si mesmo.
VENTURA: E ser cada vez mais si mesmo implica coisas desagradáveis. Jung também afirma que nada é mais terrível que conhecer a si mesmo.
HILLMAN: E ser cada vez mais o que se é – a real experiência disso é um encolhimento, quase sempre no sentido de um ressecamento, de perda de gorduras, de perda de ilusões.
VENTURA: Isso não parece nada agradável. Por que alguém desejaria isso?
HILLMAN: Porque mudar é uma coisa linda. É claro que não é o que diz o consumismo, mas mudar é bom. É um grande estímulo.
VENTURA: Mudar o quê?
HILLMAN: Mudar as falsas peles, perder a matéria incrustada que se acumulou. Soltar a casca seca. Essa é uma das grandes mudanças. Coisas que não funcionam mais, que não sustentam mais, que não o mantém vivo. Um conjunto de ideias que se tem há muito tempo. Pessoas das quais, na verdade, você não gosta, pensamentos viciados, hábitos sexuais. Estes últimos são pontos muito importantes: se aos 40 anos a pessoa faz sexo como fazia aos 18 anos, estará perdendo algo; e se aos 60 fizer amor como fazia aos 40, também estará perdendo. Tudo muda. A imaginação muda. Dizendo de outro modo, crescimento é sempre perda.
Por Google Images
Eu Poderia escolher várias direções para discutirmos esse breve diálogo, mas minha sede é para falar sobre profundidade e mudança de paradigma. Vivemos num mundo que tem pavor cultural do mergulho na alma. As construções do capitalismo estão sempre voltadas para disfarçar a necessidade de encontrarmos nossa profundidade.
Usando a linguagem Veda, vivemos no modo rajásico e tamásico de vida, sem acesso a sattva, ou criatividade fundamental. Usamos a linguagem da moda, vestimos os trajes da moda, pensamos e direcionamos nossa atenção para os movimentos sociais da moda, comemos a comida da moda, lemos os livros da moda, assistimos aos programas televisivos da moda, navegamos nos sites e blogs da moda, relacionamo-nos de acordo com a moda, montamos famílias e negócios da moda, adoecemos as patologias da moda, ingerimos as medicações da moda, acreditamos no Deus que está na moda. E etc, etc, etc.
Você pode estar pensando que odeio a moda, não é mesmo? Mas, não! Não detesto a moda. Apenas que não tenho encontrado na maioria dos modismos, possibilidades de real aprofundamento que geram transformações. Vou dar um exemplo conhecido de todos nós. Uma pessoa, mais uma dentre milhões, sofrendo de depressão. Ela fica “pra baixo”, diminui seu ritmo normal, desacelera o intelecto, prostra-se concentrada e “perdida” no horizonte. Sua alma está sedenta por ser vista. Mas, antes mesmo de se perguntar para quê (finalidade) está deprimida, corre atrás de medicamentos que removam esses sintomas. Não tenho nada absoluto contra remédios. Só acredito que devemos aproveitar o convite da doença para conhecermos sua finalidade em nossa alma. Provavelmente se conseguirmos aguardar um pouquinho, antes da remoção dos sintomas por fármacos e tivermos coragem (agir pelo coração) de fazer o mergulho, estaremos encontrando nesse evento algo mais profundo sobre nós[1]. E, não há nada mais importante para a alma do que viver a cada experiência, a metáfora do profundo.
Uma gripe nos convida a refletirmos sobre como estamos nos maltratando, por exemplo. Uma psoríase nos leva a encararmos nosso medo de nos machucarmos, colocando-nos de frente com as couraças “protetoras”. Inflamação de bexiga ou cistite questiona nosso conflito entre manter e soltar os “pesos mortos”. O câncer nos faz encarar mágoas guardadas, problemas de vida destrutivos e não reconhecidos, distanciamento de nossa própria linha de desenvolvimento, entre outros. Como diz a médica canadense Ghislaine Lânctot, considerando-se hoje, médica de alma, “a enfermidade é um presente que você se faz ou se dá para reencontrar-se consigo mesmo”. Ela continua: “As pessoas vivem esquecidas da sua alma (que é divina). A paz da sua alma será a saúde, porque o seu corpo é o reflexo material da sua alma. Se você reencontrar-se com a sua alma e a pacificar... não haverá câncer. Se um filho meu tivesse câncer, por exemplo, alimentaria sua fé em si mesmo: isso fortalece o sistema imunológico, o que afasta o câncer”.
Infelizmente, a ciência vigente continua buscando compreender a psique humana e as causas das enfermidades a partir de um lugar onde elas não estão: o universo das interações materiais. Até a psicologia abandonou a autenticidade do seu próprio objeto de estudo – a alma, insistindo que ela é um mero epifenômeno do cérebro, sujeita aos tratamentos voltados para o orgânico e aos moldes da moda. Felizmente, a ciência quântica chegou para todos, comprovando que o mundo subatômico é a morada da alma e, portanto, de muitos outros fenômenos sutis que produzimos, e com os quais interagimos, e muito mais real que a moda. Palavras de Carl Jung, em meados de 1938: “No inconsciente, precisamos contar com categorias diferentes daquelas da consciência: ocorre aqui algo semelhante do que na física, onde os fatos são modificados a partir da atividade da observação como, por exemplo, no caso da observação do núcleo atômico. Parece que no mundo microfísico do átomo as leis que regem são outras das do mundo macrofísico. Existe, nesse sentido, certo paralelismo entre o inconsciente e o mundo microfísico. O inconsciente poderia ser comparado ao núcleo atômico”. (Extraído do livro Seminários sobre sonhos de crianças, da editora Vozes)
No caso das doenças, elas nascem primeiramente no nível energético, que nossos olhos não veem e exames comuns não detectam[2]. Se não fizermos nada, passam a expressar-se num nível funcional, onde sentimos, mas não aparecem causas materiais nos resultados de exames. Se continuarmos cegos aos apelos da alma, então se materializa no orgânico. Aqui o uso de medicamentos pode até “curar”, mas se não fizermos nosso mergulho, continuará a materializar-se sempre e sempre, repetindo ou mudando de forma, vírus, bactéria, órgãos etc.
Falar em mudanças é falar em acessar a alma de si e do mundo. Munir-se de muita coragem para adentrar a caverna das sombras; reconhecer a quantidade exorbitante de enganos, sobre nós, os outros e o mundo, que continuamos carregando conosco, mascarados de modernidade e “crescimento”; encarar a verdade afirmada nos conceitos quânticos: a de que criamos a realidade que experienciamos. Isso implica em “perder”, despojar-se de couraças, encontrar em si o medo que se mascara de inveja, desejos de vingança, ódios, sadismo, masoquismo, fantasias de poder, desonestidade, rigidez, competição desmedida, vitimização, arrogância, violência, vícios, infidelidade, ingratidão, solidão, incesto, injustiças, incoerências, manias, doenças psíquicas e orgânicas, em geral, etc. O momento é agora!!
Para ficar mais gostoso, medite com Caçador de Mim, de Milton Nascimento!!

Paula Márcia Baccelli




[1] Não estou me referindo a sintomas que levam à morte certa, como infarto, AVC, aneurismas, acidentes, etc. Aqui é preciso discernimento. Mas, durante e/ou após a recuperação, o indivíduo deveria se encorajar a mergulhar nas reais causas do acontecido, pois não existe tal coisa como fatalidade.
[2] Máquinas que fazem leitura do biocampo de energia (vários modelos), acupuntura, leitura corporal, constelações sistêmicas, (psico)terapias energéticas como PEAT e Reintegração do Self, etc, são formas diagnósticas de olhar quântico, dentre outras, que, se bem utilizadas por profissionais competentes, podem detectar a criação de enfermidades antes que elas se materializem no corpo. E medicações homeopáticas e florais, por exemplo, alcançam os níveis sutis da alma para tratamento e prevenção.

Um comentário:

  1. Ótima reflexão Paula, sempre pertinente falar e ressaltar sobre a importância desse profundo mergulho na alma. Mergulhar é preciso, em especial na alma. Nadar na superfície da existência é o mesmo que não existir. Nadar e boiar na existência seria o mesmo que comer um bombom de chocolate totalmente oco. No final das contas é isso: sem o mergulho profundo, sem esse aprofundamento na alma, como conhecer e conquistar a nossa essência, sentir o nosso recheio, aquilo que realmente somos? Sei que o medo nos faz covardes por isso boiamos, mas nesse mar profundo e revolto, se o que nos resta é boiar, infelizmente acabaremos morrendo na praia.
    Grande abraço.

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