quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Casamento

Nesse ano comemoro 20 anos de casamento. E mais 04 e meio de namoro, praticamente bodas de prata.
E, um pouco antes dessa data, estava fazendo algo que adoro - vasculhando na internet imagens aleatórias, quando me deparei com esse quadro, do pintor belga e surrealista René Magritte.
Em 1928, pintou um pequeno grupo de telas que ele chamou "Os Amantes", onde a identidade das figuras está envolta em panos brancos. Muitas foram as explicações das razões pelas quais Magritte escondeu as cabeças com panos. Fato é que ele nunca explicou suas intenções.  
Mas, como toda arte provoca em nós a dança da imaginação, deixei-me guiar pelas emoções e mergulhei em mim mesma para extrair percepções.
É claro que todo processo imaginativo tem como base nossas experiências próprias. Então, o que falarei aqui, nada mais é, do que eu mesma.
É importante salientar o que entendo por casamento: é quando duas pessoas adultas decidem construir uma família juntas. Não vejo a necessidade de participarem essa decisão a ninguém, muito menos através de cerimônias religiosas tradicionais.
Casar é algo profundo, mas que a gente só pensa a respeito muitos anos depois. E são muitos os “depois”: depois do auge da paixão, depois de reaparecer a necessidade de individualidade, depois da chegada dos filhos, depois das dificuldades financeiras, depois de algumas frustrações, depois das mudanças corporais, depois dos 40 anos, etc.
E se passamos por tudo isso e continuamos juntos, ainda nos desejando, sorrindo, fazendo planos e nos divertindo, nos perguntamos, por que?
Porque conseguimos tirar os panos que nos vendavam ao longo desses anos e passamos a nos olhar corajosamente.
Atendo muitas pessoas em consultório, e quando chegam questões referentes a relacionamento, as reflexões que os levo a fazerem são: “será que vocês estão vivendo o mesmo casamento?”, “quem vocês veem quando olham um para o outro?”, “conhecem-se a si mesmos o suficiente para afirmarem que conhecem o outro?”, “assumem a sua porcentagem de responsabilidade dentro do relacionamento – 50% para cada?”, “o quanto estão dispostos a se livrarem das máscaras e mergulharem na Sombra de si mesmos e do outro?”, “o quanto estão abertos a mudanças individuais para que o coletivo do casal sobreviva?”, “conseguem manter um equilíbrio entre o dar e o receber?”, “já deixaram de fato, os seus sistemas familiares de origem para assumirem o seu sistema atual, ou continuam filhinhos e filhinhas de papai e mamãe?”, “você sabe como amar?”, etc.
Essas são perguntas que devem permear o relacionamento conjugal das pessoas e, respondê-las deve ser o motor que nos guia ao longo dos anos. É importante percebermos que aquilo que nos atrai para o cônjuge, num primeiro momento, são os nossos dramas familiares e não o amor propriamente dito. Portanto, entramos no casamento, de fato, com os referenciais que temos das gerações passadas e os utilizamos para construir nossa relação e nossa família. A questão é que não temos consciência de todos os referenciais que estamos levando para o casamento, e os que ditam as regras básicas, como ser ou não feliz, são aqueles inconscientes.
O Amor com “a” maiúsculo é como o verdadeiro Livre-arbítrio. Só pode se manifestar na Consciência Superior. Daí a urgência de expandirmos nossa consciência de nós mesmos e do todo, para conquistarmos o direito de afirmar que amamos alguém.
E, como não temos mais as obrigações sociais do passado, tecnicamente só casamos se quisermos. Mas, a partir do momento que decidirmos, precisamos fazê-lo pelas razões corretas, e não pelos inumeráveis motivos inconscientes e inconsistentes que nos circundam.
Para casar, precisamos nos tornar Adultos, com letra maiúscula. O que temos encontrado é um bando de crianças e adolescentes brincando de “marido e mulher” e o que é pior, de “pai e mãe”! E, nessas circunstâncias, fica difícil acreditar na “família” como algo viável!
Eu e meu marido estamos caminhando nessa trilha do Amor Consciente e Consistente. É claro que temos muito o que despertar ainda, mas já tiramos a venda, por isso já podemos falar de Amor.
Obrigada, Ricardo, pela oportunidade do crescimento. Continuo escolhendo amar você!

Paula Baccelli

Um comentário:

  1. Que lindo Paula! Um texto profundo e que nos traz a medida da escolha de nos unirmos em busca do verdadeiro Amor.
    Muita gratidão por encontrar em suas palavras estímulo ao crescimento conjugal.
    Abraço carinhoso! _/\_

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