terça-feira, 3 de maio de 2011

O Erro de Aristóteles

Num dias desses, eu estava refletindo sobre a dualidade das coisas. É claro que não cheguei a nenhuma conclusão inédita sobre a “paradoxalidade” da vida e seus fenômenos, mas um “Aha!” subitamente apareceu!
Busto de Aristóteles no Museu do Louvre
Aí, pensei em Aristóteles, notável filósofo grego nascido em Estagira, no reino da Macedônia, nos idos 384 – 322 a.C. Aristóteles nos ofereceu muitas coisas importantes e libertadoras, pois assim é a Filosofia e seus filósofos. E, entre elas,  a lógica linear de pensamento, unidimensional, que acabou sendo conhecida como “aristotélica”.
Se refletirmos bem, nela não há espaço para os opostos. Mas, o interessante disso, é que os opostos permeiam nossas experiências: luz e sombra, claro e escuro, dia e noite, bem e mal, nascimento e morte, amor e ódio, yin e yang, alegria e tristeza, medo e coragem, movimento e parada, dito e não-dito e assim por diante.
Se a lógica aristotélica, na qual baseamos nossas construções culturais ao longo dos séculos e principalmente a Ciência oficial, estivesse correta, não experimentaríamos a dialética da Vida. Não haveria conflitos de espécie alguma e a própria Vida não poderia ser chamada de “processo”; ela seria apenas mais um objeto para descrição.
Então, meu “Aha!” me disse que o erro básico de Aristóteles foi enxergar o ser humano como um espécime racional da Natureza. É contraditório, porque a própria Natureza se manifesta de maneira irracional nos seus inúmeros movimentos evolutivos. E, calcado nisso, estamos vendo horrores sociais e ambientais se descortinando a partir da nossa Sombra coletiva o tempo todo à nossa frente. Porque, a bem da Verdade, somos seres irracionais, dialéticos e duais em nossas expressões! Podemos até usar do artifício da racionalidade para criarmos a ilusão de que controlamos tudo e por isso, somos melhores que o restante da Natureza, mas isso não muda o fato de que somos essa onda de irracionalidade e inconsciência que permeia a tudo e a todos.
É nosso universo irracional que dita as regras do não-dito, do não-percebido pelos 05 sentidos oficiais. São os conteúdos aprisionados na Sombra de Carl Jung, que dão materialidade a atitudes irracionais mascaradas de racionais como os preconceitos de raça e posicionamentos religiosos ainda existentes e responsáveis por algumas das guerras (brincadeira de crianças poderosas) que acompanhamos o desenrolar. É nosso Isso, como disse Georg Groddeck, que comanda a expressão comportamental, mental e racional, e mantém a existência de gestação indesejada num dos quatro dias de carnaval, mesmo com toda campanha publicitária sobre prevenção. É esse mesmo Isso que faz os indivíduos racionais jogarem, tranquilamente seu lixo fora da lixeira ou os “impele” a acordar, num belo dia, como muitos outros e “decidir” que irão “beber todas”, porque são “jovens descolados” e o álcool não os domina, por isso, às cinco da madrugada, podem voltar dirigindo sem se preocuparem com absolutamente nada! É o maravilhoso universo da Sombra e do Isso que faz os alunos, muitas vezes passarem pela experiência do “branco” no momento de uma avaliação de nota, mesmo depois de terem cumprido todo o protocolo “sem noção” e oficial de estudos.
Se não fôssemos irracionais, as pessoas não necessitariam de ajuda terapêutica, muitas vezes, para compreenderem seus processos individuais. As empresas não contratariam consultoria externa para detectarem os causadores da baixa produtividade ou outro sintoma qualquer prejudicial. Se a lógica aristotélica fosse real, os cientistas sociais não teriam desenvolvido tantas teorias na tentativa ilusória de explicarem racionalmente os fenômenos que envolvem os seres sencientes nos grupos sociais e, teriam solucionado muitos problemas ainda insolúveis. Se fôssemos racionais de fato, todas as doenças deveriam ser explicadas pela fórmula Galênica da medicina tradicional e os médicos alopatas teriam respostas e tratamentos para tudo e não sofreriam “surpresas” no seu trabalho.
A questão preocupante é que Aristóteles faz parte da nossa mente. E toda nossa educação é baseada na lógica desenvolvida por ele, dentro e fora das instituições de ensino. E essa lógica não serve mais. A mente como mentora de nossas construções não serve mais!
Com o advento dos postulados da Física Quântica, a própria Ciência se afastou de Aristóteles, porque teve que encarar os fenômenos sutis que se apresentam no micromundo das partículas elementares formadoras dos átomos, e que são determinantes para o que chamamos de Existência.
Allégorie de soie - Salvador Dali
Nossa Alma ou Psiquê é irracional, e precisamos assumir essa condição se realmente quisermos TRANSFORMAÇÃO. Precisamos nos aproximar do nosso core, essência, coragem ou coração, porque a raiz dessas palavras é a mesma e nos leva direto ao Self, ao Eu, à experiência da Unidade, da complementaridade dos opostos, portanto à Saúde!
Precisamos conhecer nossa Sombra, nosso Isso, nosso mundo irracional, o não-dito, para que não fiquemos à mercê de suas ações-surpresa, que muitas vezes nos dão de presente uma doença, um desemprego ou uma separação. Precisamos nos conhecer para  podermos utilizar efetiva e eficazmente a divindade presente em nós, a nosso favor e em favor da coletividade. Isto nos devolverá a tão desejada e buscada Unidade, sem perdermos o colorido da Diversidade.
Frase famosa e conhecida do filósofo, teólogo e paleontólogo francês Pierre Teilhard de Chardin: “Nós não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.”.
Então, não dá para aceitar essa história de sermos primeiramente linearmente lógicos, não é mesmo? É como querer colocar o oceano num copo d’água!
Grande abraço a todos! 
Paula Baccelli
GRODDECK, Georg. O homem e seu Isso. São Paulo: Editora Perspectiva, 1994.
OSHO. O homem que amava as gaivotas. Campinas: Verus Editora, 2004.
JUNG, Carl. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1977.
GOSWAMI, Amit. O Universo autoconsciente. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 2001.

3 comentários:

  1. Eu, particularmente, acho que na irracionalidade que reside a delícia de viver. Ser racional tende a ser tedioso.

    Ah, e por sinal seu post, juntamente com aquele anime que te falei: Earth Girl Arjuna, me inspiraram, tá aí meu blog:
    http://carolrmartins.blogspot.com/

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  2. Oi Carol!
    Obrigada! Estou postando Earth Girl Arjuna no Eu, Vc e o Universo, conforme sua dica e está um sucesso!
    Vou inserir o seu blog nos favoritos daqui!

    Bjs,
    Paula Baccelli.

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  3. Nossa, esse anime é lindo demais. Logo ontem resolvi voltar a assistir, pois parei no episódio 11 eu acho, e aí a Laena me conta que tinham postado ele no blog, mas eu nem tinha visto. Se eu acreditasse em coincidências...
    Mas ele me causa reações q nem sei explicar, arrepios, choro, plenitude, compreensão, gana de agir, tudo misturado.
    Muito obrigada pelo apoio. ^^

    ;*

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