Diálogo entre James
Hillman e Michael Ventura, publicado no livro Cem anos de psicoterapia... e o mundo está cada vez pior:
HILLMAN: Jung diz que
Individuação é ser cada vez mais si mesmo.
VENTURA: E ser cada
vez mais si mesmo implica coisas desagradáveis. Jung também afirma que nada é
mais terrível que conhecer a si mesmo.
HILLMAN: E ser cada
vez mais o que se é – a real experiência disso é um encolhimento, quase sempre
no sentido de um ressecamento, de perda de gorduras, de perda de ilusões.
VENTURA: Isso não
parece nada agradável. Por que alguém desejaria isso?
HILLMAN: Porque mudar
é uma coisa linda. É claro que não é o que diz o consumismo, mas mudar é bom. É
um grande estímulo.
VENTURA: Mudar o quê?
HILLMAN: Mudar as
falsas peles, perder a matéria incrustada que se acumulou. Soltar a casca seca.
Essa é uma das grandes mudanças. Coisas que não funcionam mais, que não
sustentam mais, que não o mantém vivo. Um conjunto de ideias que se tem há
muito tempo. Pessoas das quais, na
verdade, você não gosta, pensamentos viciados, hábitos sexuais. Estes últimos
são pontos muito importantes: se aos 40 anos a pessoa faz sexo como fazia aos
18 anos, estará perdendo algo; e se aos 60 fizer amor como fazia aos 40, também
estará perdendo. Tudo muda. A imaginação muda. Dizendo de outro modo, crescimento é sempre perda.
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Eu Poderia escolher várias
direções para discutirmos esse breve diálogo, mas minha sede é para falar sobre
profundidade e mudança de paradigma. Vivemos num mundo que tem pavor cultural
do mergulho na alma. As construções do capitalismo estão sempre voltadas para
disfarçar a necessidade de encontrarmos nossa profundidade.
Usando a linguagem
Veda, vivemos no modo rajásico e tamásico de vida, sem acesso a sattva, ou
criatividade fundamental. Usamos a linguagem da moda, vestimos os trajes da
moda, pensamos e direcionamos nossa atenção para os movimentos sociais da moda, comemos a comida da moda, lemos os livros da moda, assistimos aos programas
televisivos da moda, navegamos nos
sites e blogs da moda, relacionamo-nos
de acordo com a moda, montamos
famílias e negócios da moda,
adoecemos as patologias da moda, ingerimos
as medicações da moda, acreditamos no
Deus que está na moda. E etc, etc,
etc.
Você pode estar pensando
que odeio a moda, não é mesmo? Mas, não! Não detesto a moda. Apenas que não tenho
encontrado na maioria dos modismos, possibilidades de real aprofundamento que
geram transformações. Vou dar um exemplo conhecido de todos nós. Uma pessoa, mais
uma dentre milhões, sofrendo de depressão. Ela fica “pra baixo”, diminui seu
ritmo normal, desacelera o intelecto, prostra-se concentrada e “perdida” no
horizonte. Sua alma está sedenta por ser vista. Mas, antes mesmo de se
perguntar para quê (finalidade) está
deprimida, corre atrás de medicamentos que removam esses sintomas. Não tenho
nada absoluto contra remédios. Só acredito que devemos aproveitar o convite da
doença para conhecermos sua finalidade em nossa alma. Provavelmente se
conseguirmos aguardar um pouquinho, antes da remoção dos sintomas por fármacos
e tivermos coragem (agir pelo
coração) de fazer o mergulho, estaremos encontrando nesse evento algo mais
profundo sobre nós[1].
E, não há nada mais importante para a alma do que viver a cada experiência, a
metáfora do profundo.
Uma gripe nos convida
a refletirmos sobre como estamos nos maltratando, por exemplo. Uma psoríase nos
leva a encararmos nosso medo de nos machucarmos, colocando-nos de frente com as
couraças “protetoras”. Inflamação de bexiga ou cistite questiona nosso conflito
entre manter e soltar os “pesos mortos”. O câncer nos faz encarar mágoas
guardadas, problemas de vida destrutivos e não reconhecidos, distanciamento de nossa
própria linha de desenvolvimento, entre outros. Como diz a médica canadense Ghislaine Lânctot, considerando-se hoje, médica de alma, “a enfermidade é um presente que
você se faz ou se dá para reencontrar-se consigo mesmo”. Ela continua: “As
pessoas vivem esquecidas da sua alma (que é divina). A paz da sua alma será a
saúde, porque o seu corpo é o reflexo material da sua alma. Se você
reencontrar-se com a sua alma e a pacificar... não haverá câncer. Se um filho
meu tivesse câncer, por exemplo, alimentaria sua fé em si mesmo: isso fortalece
o sistema imunológico, o que afasta o câncer”.
Infelizmente, a
ciência vigente continua buscando compreender a psique humana e as causas das
enfermidades a partir de um lugar onde elas não estão: o universo das
interações materiais. Até a psicologia abandonou a autenticidade do seu próprio
objeto de estudo – a alma, insistindo que ela é um mero epifenômeno do cérebro,
sujeita aos tratamentos voltados para o orgânico e aos moldes da moda. Felizmente, a ciência quântica
chegou para todos, comprovando que o mundo subatômico é a morada da alma e,
portanto, de muitos outros fenômenos sutis que produzimos, e com os quais
interagimos, e muito mais real que a moda.
Palavras de Carl Jung, em meados de 1938: “No inconsciente, precisamos contar
com categorias diferentes daquelas da consciência: ocorre aqui algo semelhante
do que na física, onde os fatos são modificados a partir da atividade da
observação como, por exemplo, no caso da observação do núcleo atômico. Parece que
no mundo microfísico do átomo as leis que regem são outras das do mundo
macrofísico. Existe, nesse sentido, certo paralelismo entre o inconsciente e o
mundo microfísico. O inconsciente poderia ser comparado ao núcleo atômico”.
(Extraído do livro Seminários sobre
sonhos de crianças, da editora Vozes)
No caso das doenças,
elas nascem primeiramente no nível energético, que nossos olhos não veem e
exames comuns não detectam[2]. Se
não fizermos nada, passam a expressar-se num nível funcional, onde sentimos,
mas não aparecem causas materiais nos resultados de exames. Se continuarmos
cegos aos apelos da alma, então se materializa no orgânico. Aqui o uso de
medicamentos pode até “curar”, mas se não fizermos nosso mergulho, continuará a
materializar-se sempre e sempre, repetindo ou mudando de forma, vírus,
bactéria, órgãos etc.
Falar em mudanças é
falar em acessar a alma de si e do mundo. Munir-se de muita coragem para adentrar
a caverna das sombras; reconhecer a quantidade exorbitante de enganos, sobre
nós, os outros e o mundo, que continuamos carregando conosco, mascarados de
modernidade e “crescimento”; encarar a verdade afirmada nos conceitos
quânticos: a de que criamos a realidade que experienciamos. Isso implica em “perder”,
despojar-se de couraças, encontrar em si o medo que se mascara de inveja,
desejos de vingança, ódios, sadismo, masoquismo, fantasias de poder,
desonestidade, rigidez, competição desmedida, vitimização, arrogância,
violência, vícios, infidelidade, ingratidão, solidão, incesto, injustiças,
incoerências, manias, doenças psíquicas e orgânicas, em geral, etc. O momento é
agora!!
Para ficar mais
gostoso, medite com Caçador de Mim,
de Milton Nascimento!!
Paula
Márcia Baccelli
[1] Não estou
me referindo a sintomas que levam à morte certa, como infarto, AVC, aneurismas,
acidentes, etc. Aqui é preciso discernimento. Mas, durante e/ou após a
recuperação, o indivíduo deveria se encorajar a mergulhar nas reais causas do
acontecido, pois não existe tal coisa como fatalidade.
[2] Máquinas
que fazem leitura do biocampo de energia (vários modelos), acupuntura, leitura
corporal, constelações sistêmicas, (psico)terapias energéticas como PEAT e
Reintegração do Self, etc, são formas diagnósticas de olhar quântico, dentre outras, que, se
bem utilizadas por profissionais competentes, podem detectar a criação de
enfermidades antes que elas se materializem no corpo. E medicações homeopáticas
e florais, por exemplo, alcançam os níveis sutis da alma para tratamento e
prevenção.
Ótima reflexão Paula, sempre pertinente falar e ressaltar sobre a importância desse profundo mergulho na alma. Mergulhar é preciso, em especial na alma. Nadar na superfície da existência é o mesmo que não existir. Nadar e boiar na existência seria o mesmo que comer um bombom de chocolate totalmente oco. No final das contas é isso: sem o mergulho profundo, sem esse aprofundamento na alma, como conhecer e conquistar a nossa essência, sentir o nosso recheio, aquilo que realmente somos? Sei que o medo nos faz covardes por isso boiamos, mas nesse mar profundo e revolto, se o que nos resta é boiar, infelizmente acabaremos morrendo na praia.
ResponderExcluirGrande abraço.