quarta-feira, 10 de março de 2010

Sobre a Alma, o Corpo, as Doenças e a Saúde...

Paula Márcia Baccelli

O ser humano é um ser biopsicossocial e vivencia dois princípios básicos: autopreservação e preservação da espécie. Para que isso se mantenha caminha naturalmente num processo de autoregulação, responsável pela organização da vida. Nos mamíferos, em geral, este processo de autoregulação é responsabilidade do sistema límbico, área do cérebro também conhecida como cérebro das emoções.
Sabe-se que, na evolução das espécies, em geral, tudo que vem antes é mais forte e dita as regras. Em nossa espécie humana, o cérebro das emoções é anterior ao neo-cortéx, ou cérebro da razão. Isto nos faz pensar em algo, aparentemente sem resposta: quem vem antes? A razão ou a emoção?
Para Hipócrates, filósofo e considerado o pai da medicina, o ser humano é uma Unidade organizada, sendo o corpo a dimensão funcional, a alma a dimensão reguladora e a doença o efeito da desorganização desta Unidade. Vemos então, que já em épocas anteriores ao calendário cristão, percebemos a nós mesmos como uma Unidade, onde vários aspectos se inter-relacionam e se complementam para formar essa singularidade que expressamos, dando-nos um senso de identidade com o qual transitamos por toda uma existência.
Na verdade, em toda literatura produzida, nas mais diversas culturas do mundo, a alusão a essa Unidade se faz presente. A Física Quântica, na sua clareza de colocações, nos oferece postulados que confirmam essa Unidade, a qual chamam de monismo, onde o físico e o psíquico mantêm uma interação e uma influência recíprocas. Já dizia Kant, filósofo alemão, que “as pesquisas que valorizam apenas o corpo anátomo-fisiológico serão sempre cenário de frustração, pois o saber sobre a doença não se reduz à anatomia e fisiologia do corpo físico.”.
Georg Groddeck, médico alemão, contemporâneo de Freud, escreveu o Livro D’Isso, obra que marca o nascimento da Psicossomática. Para ele, a doença pode ser entendida como uma criação carregada de finalidade, sentido e função expressiva. Assim, todo e qualquer tratamento deve abranger, ao mesmo tempo, o ser humano e seus sintomas.
As manifestações psíquicas – sensações, pensamentos, emoções, sentimentos etc – instalam-se na dinâmica do organismo físico e a origem da doença é determinada pela combinação entre uma vulnerabilidade orgânica específica, a psicodinâmica do paciente e a situação exterior que mobiliza seus conflitos e atinge suas defesas.
O desafio nas doenças é compreender o universo único e inédito presente no indivíduo, cuja riqueza de experiência não pode ser refletida por métodos estatísticos. É imprescindível estabelecer uma terapêutica que contemple a singularidade dos pacientes, ou seja, a Unidade.
A doença precisa ser vista como caminho para a saúde. Ela nos dá poderes para fazermos o que desejamos, sem nos sentirmos reprimidos. Ela é uma expressão de nós mesmos, que nos conta que algo em nossa Alma não vai bem. Nosso organismo físico apenas responde a essa Alma, ou Ser, ou Consciência Suprema como nomeia o indiano Amit Goswami, físico da Universidade de Oregon nos EUA e colaborador do filme Quem Somos Nós?. Portanto, saber a respeito da Alma e sua interação com o corpo e as doenças manisfestadas, é conhecer profundamente o ser único que habita em nós.
As doenças também são familiares, uma vez que a dinâmica familiar é preexistente ao ser recém-nascido. Esta dinâmica familiar é inconsciente. Os membros vão “herdando” os caminhos neuróticos de autopreservação, desenvolvidos neste grupo há muitas gerações. Essa dinâmica vai sendo aprendida, introjetada pelo bebê desde os primórdios de sua formação. Assim, é preciso conhecer também a dinâmica da família do paciente e seus mecanismos sadios e neuróticos de elaboração de conflitos. Desta forma, pode-se supor uma lógica do adoecer para os membros de um mesmo grupo familiar e trabalhar para que os sintomas não apareçam ou apareçam menos destrutivos ou possam, de fato, ser curados.
Trabalhar a prevenção da saúde da dinâmica familiar é quebrar o ciclo de formas específicas de adoecimento nos grupos familiares. Isto serve também para outros grupos, como escolas, empresas, amigos etc.
A Psicossomática Sistêmica diz que a doença se apresenta em 03 níveis, respectivamente – energético, funcional e orgânico. Por esta razão é louvável uma terapêutica que leve o paciente a trabalhar nestes níveis, de forma dinâmica e sempre interagindo-os entre si. As terapias sistêmicas e energéticas, se bem trabalhadas, com foco e intencionalidade bem definidas, são as mais recomendadas.
James Hillman, psicólogo pós-junguiano da Universidade de Dallas, EUA, nos diz que temos entes importantes se manifestando em nós. Um deles é a Criança interna, expressão pura do nosso movimento emocional. Esta entidade guarda os princípios básicos de nós mesmos no que diz respeito a lidar com conflitos. Trabalhar a Criança ou Crianças Internas em nós facilita o contato consciente com nossa expressão emocional. Outro ente é o nosso Adulto interno, nosso poder de decisão, nossa parte mais “pé no chão” que precisamos reconhecer e manter em equilíbrio. Ele é o mediador, segundo a abordagem terapêutica Análise Transacional, do canadense Eric Berne, entre a Criança interna e o Senex, ou Velho interno, ou estado de ego Pai. Este Pai interno nos chama atenção aos valores e crenças que vamos incorporando e transformando ao longo da vida. A Criança e o Velho tendem a viver em atrito: a Criança deseja e o Velho julga. Então, precisamos chamar com urgência o Adulto, para nos dizer exatamente o que fazer. Imaginem entregar algumas de nossas decisões a uma criança ou a velho rabugento permeado de preconceitos?
O problema, é que quando não estamos “senhores de nós mesmos”, ficamos à mercê desses entes, com suas mais variadas tramas. Muitas vezes reconhecemos o Adulto encarcerado e fragilizado. Ou a Criança bagunçada em suas emoções, medrosa, ou já muito “encouraçada” em mecanismos emocionais e comportamentais desorganizadores. Ou ainda o Velho Pai cheio de preconceitos, crenças limitadoras e autoritarismo ou paternalismo exagerados. E, todos mergulhados em nosso emaranhado inconsciente, tomando decisões insatisfatórias para a integridade de nossa saúde, criando mais e mais emaranhados, reforçando outros, e que em muitos momentos nos sufocam tanto, que não somos mais capazes de nos libertar. Com certeza, olharmos de frente para o que somos, para nossa Alma, é imprescindível para qualquer cura. Nela é que se encontram, de fato, os recursos necessários para empreendermos a doença ou a saúde em nós mesmos.
Outro aspecto importante para verificar, a fim de me atrever a “solucionar” o questionamento inicial deste artigo, é nos lembrarmos que nossa vida é carregada de Símbolos. Nossa cultura nos convida a encararmos os símbolos como pertencentes à fantasia. Mas, isto não é verdade! Aliás, falar sobre realidade e fantasia, com o conhecimento que há no mundo de hoje, “dá pano pra manga!”. Mas, sem sombra de dúvidas, há uma realidade física que é sólida, determinística, e outra, ou melhor, outras tantas, psíquicas, probabilísticas, que se manifestam em outros níveis da Consciência e que aparecem expressas em Símbolos.
Bem, o Símbolo escapa a qualquer definição. E, está no cerne, no centro de toda vida imaginativa. Seu trabalho é, principalmente, revelar os segredos do inconsciente, abrindo nossa alma para o desconhecido e o infinito em nós. Todas as influências inconscientes e conscientes, bem como todo produto de ações, idéias, conceitos, crenças etc, realizadas pelos indivíduos, ficam sintetizadas em Símbolos, na psique humana. Então, num processo terapêutico que guie a pessoa a entrar em contato com sua simbologia interna, é possível identificar a origem de muitas doenças e o que realmente poderá trazer a saúde.
É preciso aceitarmos, de uma vez por todas que, embora possamos agrupar por sintomas as doenças, suas causas são de ordem singular. E sintetizam-se e escondem-se e solucionam-se através de símbolos. Um exemplo: Homem, 68 anos, há dez sofrendo de insônia e há oito usando medicação controlada. Fomos trabalhando para que ele pudesse, num primeiro momento, entrar em sintonia consigo mesmo, reconhecendo em si, sombra e luz e seus efeitos. Depois, quando chegou o momento dele trabalhar a insônia propriamente dita, apareceram quadros de sua infância que o traumatizaram consideravelmente.
Após a elaboração destes quadros, entrou em contato com a simbologia da insônia, que, constatamos, apareceu em sua vida para chamar-lhe a atenção para a necessidade urgente de cuidar desses traumas. Então, percebeu seu cérebro como se estivesse cheio de buracos, cada buraco aguardando uma determinada emoção para preenchê-lo. À medida que foi preenchendo esses buracos, a insônia foi diminuindo, e os medicamentos puderam ser gradativamente retirados. Chegou ao final da terapia com sucesso, e, há cerca de nove anos, tem se mantido bem.
Os símbolos, os quais holografamos o tempo todo, assumem formas diversas que muitas vezes nos sustentam e equilibram e outras, nos desorganizam e adoecem com suas formas obsessivas e dissimuladas. E, continuam conosco, atuantes, procurando nos manter no mesmo padrão com que foram criados, até que os reconheçamos e nos livremos conscientemente deles.
Mas, falar sobre esses símbolos ou Criações Mentais com mais detalhes, é assunto para outro artigo. O que importa dessas criações é que elas são parte importante desse “bolo” que define doença ou saúde em nós. Nosso corpo físico, na verdade, é um arquivo de histórias emocionais produzidas por nós mesmos e repletas de efeitos interferentes.
Nosso cérebro é formado por células chamadas neurônios. Estes se agrupam em redes neuronais e essas redes são responsáveis pelos processos bioquímicos que o cérebro realiza. Cada local, nesta rede, está associado a uma emoção.
As emoções são a mais pura expressão do nosso eu. Tudo o que pensamos, sentimos, fazemos, desejamos e armazenamos na memória, está permeado de emoções. Segundo a Dra. Candace Pert, professora da Universidade de Georgetown, EUA, e bioquímica responsável pela pesquisa com peptídeos, as emoções são substâncias impressas holograficamente nas células do corpo físico. O hipotálamo, no cérebro, é como uma pequena fábrica de peptídeos ou substâncias que combinam com determinadas emoções que experimentamos. Então, existem substâncias para a raiva, o medo, a alegria, e também a luxúria. E, no momento que experimentamos um certo estado emocional, o hipotálamo reúne imediatamente esses peptídeos e depois os libera na corrente sanguínea, através da glândula pituitária, para diferentes partes do corpo.
Cada célula tem receptores no seu exterior. E, os peptídeos se acoplam às células para enviar sinais para o seu interior. Esses sinais carregam aquelas emoções que dispararam todo este processo e modificam a célula de várias maneiras, desencadeando uma série de eventos bioquímicos. Assim, podemos afirmar que cada célula está viva e tem uma consciência, proveniente do estado emocional disparador. As emoções são a própria vida!
Retomamos, então, a pergunta inicial: quem vem antes? A razão ou a emoção?
Decididamente, as emoções aparecem primeiro, e ditam as regras da saúde e da doença em nós. Se estivermos bombardeando as células, por exemplo, com emoções de menos-valia por nós mesmos, essas mesmas células produzirão células-filhas com mais locais de recepção para este peptídeo emocional de menos-valia e, menos locais de recepção para segurança, alegria, serenidade e todas as substâncias responsáveis pela saúde do organismo.
Ao nos depararmos com este conhecimento, devemos encarar que, se trabalharmos as nossas emoções, a nosso favor estaremos construindo mais canais para a saúde, solucionando desde simples a complicados problemas. A questão é que, na maioria das vezes, nosso Adulto interno está tão fragilizado e nossa Criança tão atuante, que esta faz com que optemos por algo ou alguém externo que nos cure, sem que precisemos fazer muita coisa para tal. Muitas vezes temos preguiça de agir e somos covardes para nos enxergarmos, e entregamos nas mãos dos outros a responsabilidade pela nossa cura. Esses outros podem ser as religiões, os medicamentos, um companheiro ou companheira, os pais, os filhos, as drogas.
Trabalho diretamente com portadores de demência, sendo a doença de Alzheimer a mais comum. E, verifico que, nas doenças degenerativas do cérebro, há um forte padrão de rigidez emocional nessas pessoas, cada qual na sua singularidade. É tanta inflexibilidade diante da vida, dos outros e de si mesmos, que o organismo fica de “saco cheio” com as redes neuronais adoecidas, usadas pela pessoa para atuar na vida. Tanto que, em um determinado momento da vida, quando as células estão repletas de redes neuronais também “enrijecidas”, a doença se apresenta e toma conta do indivíduo, encarcerando-o em si mesmo, afastando-o de uma interação normal consigo e com o meio que o cerca.
E, pequenas interferências neste mundo simbólico tão conturbado, de alguns pacientes que se encontravam em uma fase inicial desta doença, puderam ter um resultado de mais flexibilidade emocional, que amenizou o quadro conturbado experimentado por essas pessoas.
O que adoece ou se cura, na verdade, está além do corpo, na alma ou consciência interna. A alma orienta a matéria. E, é a alma que precisa ser trabalhada.
Precisamos mudar os símbolos adoecidos presentes em nós! Precisamos aprender mais caminhos saudáveis para serem percorridos pela nossa alma!
A doença é um momento sagrado que vai mexer com toda a vida da pessoa, para que ela vá em busca do reencontro com seu eu, sua essência divina, sua consciência interna. E, com isso, experimente uma existência saudável e feliz!

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