Falando um pouco mais de “descida”, e
protestando a favor de uma psicologia voltada para a alma humana, honro James Hillman neste parágrafo, em seu livro Psicologia
Arquetípica, que nunca sai da minha cabeceira:
“A alma sempre volta às suas mesmas feridas,
ela insiste nas mesmas figuras e emoções, vemos os mesmos temas nos sonhos por
muitos e muitos anos. Desse ângulo, a psicopatologia em si aponta para a
circularidade da alma. A alma repete-se infinitamente, e na repetição está uma
tentativa de aprofundamento. A alma volta constantemente às suas feridas para
extrair delas novos significados; volta em busca de uma experiência renovada. Ficamos
familiarizados com nossos complexos e nosso sofrimento. O ego, identificado com
o arquétipo do herói, chama a repetição de neurose. Mas, na repetição, na
circularidade, o ego é forçado a conscientizar-se de que há uma outra força
governando a coisa toda. Na repetição o ego é forçado a servir à psique. Há um
aspecto ritual aqui, uma humilhação. A circularidade, por fim, nos personaliza.
Do ponto de vista da alma, a repetição é uma maneira de nos tornarmos aquilo
que somos.”
Esta citação nos convida a revermos nossas
crenças sobre doenças, conflitos emocionais e sofrimento. Temos sido infantis
ao lidar com esses três movimentos da alma, acreditando que temos que nos
livrar deles a todo custo, sem ao menos reconhecê-los nas suas razões e
valorizarmos seus ensinamentos! Buscamos alguém ou algo que nos salve,
distanciando-nos da metáfora da nossa era, a metáfora do profundo, “descida” ou
catábase segundo os gregos.
Precisamos enxergar que o aprofundamento em
nós mesmos tem um poder que talvez nada mais tenha, de nos trazer
espiritualidade, muito mais que superficialidade. Quando fechamos os olhos para
a “depressão”, perdemos a oportunidade do Despertar, e nos colocamos a serviço
de “uma perturbação maníaca disfarçada de ‘crescimento’ ”. Depois, dizemos que
não sabemos por que estamos nos sentindo tão vazios, quando temos muitas
possibilidades à nossa disposição!
Com certeza, a Consciência Suprema em sua
infinita sabedoria, percebendo que nossas almas estavam se desviando de seu propósito
maior – ser – cria a possibilidade de “descida” para nos lançarmos novamente no
vale da alma, onde somente nele podemos experimentar Amor, Justiça, Beleza e
Verdade, que nos levam à Felicidade.
E para completar, Evanescence e sua sensibilidade indiscutível!
Paula Baccelli
Evanescence - Field of Innocence
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